O homem teme naturalmente a escuridão. Um medo irracional que nos presenteia nossa imaginação e que é capaz de dar forma física a monstros escondidos em nosso âmago, de nos fazer perder a razão por um minuto e nos fazer tremer como quando eram criancinhas descobrindo o mundo pela primeira vez.

E se a escuridão fosse uma verdadeira sombra que dividisse nossa realidade? Seríamos capazes de enfrentar nossos medos juntos? A sombra de uma ameaça comum nos uniria? Provavelmente, a princípio sim, mas certamente alguns tentariam tirar proveito da situação a seu favor. Desta maneira, incitariam o ódio iria e as disputas para criar novas fronteiras que aumentem velhos medos e gerem novos, que estabeleçam novos interesses e regras.

É disso que Sombra e Ossos (Shadow and Bone) fala, de uma nação separada por uma enorme escuridão, por uma guerra que parece não ter fim, de famílias destruídas por ambas situações e da esperança de que um dia essa situação acabe. Entretanto mil anos de escuridão se passaram, século que farão o mistério desta sombra colossal criada por um herege dissidente seja esquecido, obscurecido pela passagem do tempo, abrindo as portas para a lenda.

Esse mundo fantástico, aparentemente localizado em uma era semelhante à do início do século XX, de vários estados e culturas opostas (os Grisha diferem dos mortais comuns por seus poderes sobrenaturais) que compartilham um inimigo, a Sombra. Essa barreira em névoa entre esses países, cheia de criaturas ameaçadoras que impossibilitam atravessá-la de um lado para o outro. Ou quase … Em torno dele, além dos corpos militares dessas diferentes civilizações, articulam-se máfias de contrabando e mercado negro.

Durante os 8 episódios desta primeira temporada seguiremos o destino de Alina (Jessie Mei Li), uma órfã da guerra, representante de uma raça mestiça odiada pelo povo de Ravka, mas que descobre que possui o poder de destruir a Dobra das Sombras. Ao mesmo tempo testemunharemos a história de um trio peculiar cuja missão é sequestrá-la para salvá-la de possíveis criminosos, e a uma história de amor de dois amigos de infância. Mas não irei lhe contar todos os detalhes.

Baseada em duas sagas escritas por Leigh Bardugo, a trilogia Grisha e Six of Crows, temos uma narrativa e um cenário rico, com uma trama cheia de reviravoltas inesperadas e decisões de última hora por parte dos personagens. Vemos isso na presença de vários subtramas que se cruzam e no impacto que eles têm na história central, cruzando assim os diferentes caminhos dos personagens em diversas ocasiões.

A produção merece destaque, já que muitas séries de fantasia a tendência à artificialidade ganha destaque, uma coisa que neste caso não ocorra. Um exemplo é o uso da magia por alguns dos personagens, tantos principais quanto os secundários, escolhida para ser feita com menos demonstrações, mas com um trabalho de pós-produção de qualidade que permite enganar o olho humano e dar a impressão da realidade.  Adicionamos isso ao cenário, bem utilizados nas cenas, especialmente na introdução dos monstros e uma configuração cuidadosa que tornam mais fácil para nos mergulhar na trama.

Em suma, é uma série com um enredo bom e leve, sem muitas reviravoltas complicadas; com uma boa primeira temporada e que, contrariado outras séries do gênero fantasia, é surpreendentemente bem feita. Recomendo? Sim muito. Os capítulos duram quase uma hora e voam porque tem muito suspense e o enredo é interessante a ponto de não nos levantar do sofá, queremos mais e quando chega ao último episódio nos deixa ávido para uma segunda temporada. O bom que a Netflix já confirmou que continuará com a série.

Título original: Shadow and Bone (série de TV) | Ano: 2021 | País: Estados Unidos | Direção: Eric Heisserer (Criador), Mairzee Almas, Lee Toland Krieger| Roteiro: Vanya Asher, Daegan Fryklind, Eric Heisserer, Shelley Meals | Fotografia: Owen McPolin, David Lanzenberg Elenco: Freddy Carter, Jessie Mei Li, Archie Renaux, Amita Suman, Kit Young, Ben Barnes, Simon Sears, Balázs Megyeri, Daisy Head, Julian Kostov, Sujaya Dasgupta, Danielle Galligan.

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