Uma jornada para todos
São poucas as histórias hoje em dia que buscam levar o leitor para uma viagem fantástica, Sete Virtudes é uma delas. Vejo muitos leitores, escritores e apaixonados pela área falando em como muitas obras devem, ou são boas por fazerem, se distanciar de bases como Tolkien e C. S. Lewis (criadores do universo do Senhor dos Anéis e Nárnia, respectivamente). Em maioria por acharem que muitas obras novas, ou até mesmo algumas mais antigas que fogem dessas bases, devam seguir uma linha mais “moderna”, ou que tal obra se tornará melhor ao seguir os padrões dos novos livros de fantasia que conhecemos atualmente (Harry Potter, Game of Thrones, dentre outros). E aí questiono: Por que não ambos? Um pouco de Conan o Bárbaro, um pouco de Tolkien com seu universo moldado por seus detalhes magníficos, unido em uma narrativa que nos leve em uma jornada desafiante. É isso que J. R. Diniz faz em seu livro, pois ele não só é uma homenagem a cada autor da literatura fantástica, como propõe descrever sua própria experiência moldadas por tantos autores incríveis.
Aqui não temos uma revolução na literatura, ou o livro perfeito. Sim, ele tem falhas, alguns erros até bobos. Alguns vícios de palavras além de em alguns momentos o autor se perder um pouco na narrativa, mas nada que prejudique. Afinal, a proposta do autor é compartilhar uma aventura que seguiu por anos com amigos. Dá para dizer que foi, e é, uma verdadeira jornada. O livro não se trata em maravilhar através do novo, pelo contrário, ele traz as maravilhas de tudo que já foi criado até agora. Todas as características de cada herói, seus conflitos, empecilhos, diferenças e união. Apresento-lhes uma verdadeira mesa de RPG entregue em uma capa maravilhosamente bela em sua simplicidade.
Personagens simples e cativantes.
Aqui irá conhecer um mundo novo, com seus personagens que são conhecidos tanto por seus nomes quanto por seus papeis. Temos o jovem que deseja seguir o caminho do herói; a ladina astuta a qual conquista com seu carisma repleto de sarcasmo e uma língua afiada; temos o bárbaro protetor o qual se levanta no furor da batalha; o pequeno amigo de coração puro, sempre preocupado; a maga que sempre possui algum conhecimento e truques para situações propícias; um rei sem reino em busca de recuperar sua honra e de seu povo; e o clérigo, sempre disposto a ajudar com seus conhecimentos e dons divinos.
Cada um deles com um papel, cada um deles complementando o outro. São heróis simples em sua natureza, e isso os torna grandes em suas virtudes. Transformam sua jornada em uma jornada para todos, pois, por mais que insistimos em complicar as coisas, é nossa simplicidade que possui a resposta. Esses heróis possuem nossas características, cada um deles é uma parte nossa. Soa um tanto piegas eu sei, mas é a verdade.
Quando quem amamos está em perigo, o bárbaro toma frente de tudo que sentimos e age, não importa o empecilho. Quando mais queremos sair de uma situação, nosso lado gatuno deseja agir, mas nosso bom coração também age em conjunto, podendo tomar atitudes nem sempre boas, mas com boas razões. Nosso conhecimento e arte agem quando mais ninguém sabe o que fazer. Compreendem? A simplicidade em cada um desses personagens nos faz se interessar mais neles, em seu futuro, em sua jornada. Faz com que desejemos acompanha-los. Essa simplicidade na narrativa, mas com um desenvolvimento longe de ser raso. Clichês? Sim. Ruins? Garanto que não. Em momentos rimos com a maturidade de um amigo alertando sobre os flertes perigosos de uma gatuna astuta; outra hora ficamos apreensivos quando alguém se machuca enquanto está sendo atacada por um enxame de morcegos gigantes. Somos tocados pela simplicidade de cada um, e quando menos esperamos, estamos vislumbrando toda essa aventura.
Um mundo rico.
É através de Zell, um elfo das terras frias de Azaghen, que somos apresentados para o mundo de Ekar. Ou o que vai além de seu humilde lá. Ele é o famoso herói curioso, cheio de desejos, o qual fica maravilhado na primeira descrição que misteriosos viajantes o dão sobre o que vai além das brancas montanhas. Inicialmente temos uma história que nos é apresentada em episódios, um verdadeiro início de uma mesa de RPG, mas após Zell conhecer o alegre Windows, e ajuda-lo a salvar seu vilarejo, é aí que passamos a conhecer esse mundo tão vasto.
Temos o primeiro vislumbre de Arkalrea, a qual é detalhada enquanto os jovens amigos vão conhecendo melhor a cidade. Daqui vamos para um vasto campo até fortalezas no Sul. Orcs atacando, heróis defendendo e tombando. Além de profecias e reinos divinos nos é apresentado. O autor não se limita ao plano mortal; os deuses desse mundo não são apenas estátuas adoradas, eles compartilham seus segredos, suas dádivas e desejos.
Falando em deuses, há vários aqui os quais os amantes de RPG de mesa vão reconhecer por suas características: o deus da força; deus da guerra; deusa da sorte; deusa da vida e protetora dentre vários. Além disso, seus representantes majestosamente apresentados em momentos até inesperados.
Uma aventura para quem conhece esse mundo, e uma jornada para quem está conhecendo.
Como dito no começo, essa é uma história para todos que gostam de um mundo repleto de magia, aventura e seus perigos. Uma verdadeira homenagem. Os fãs de RPG de mesa irão se identificar com cada personagem, com cada situação. Arrisco a dizer que será fácil reconhecer os momentos que os dados, como sempre avisado por Windows: estão ou não favoráveis. Aquele crítico que pode lhe custar a vida, ou aquele número que lhe entregou uma rápida esquiva unida em um ataque feroz.
Poderão se imaginar como vendo a aventura ao vivo, com cada um dos jogadores e seus heróis, cada dado rolado, cada expectativa em atingir seu objetivo. Aquela vontade de roer as unhas quando estão no auge de uma missão importante. Será como enxergar o narrador e seus heróis por cima. Como um verdadeiro jogo onde cada um já passou. Sentiu cada momento, e voltará a sentir.
Já os não tão conhecedores desse universo, poderão se sentir presos em perigos, e até mesmo, ter as sensações ampliadas por não saber do perigo de uma rodada de dados falha. Se sentirão receosos pelos heróis que se apegaram. Vão imaginar cada situação sem ter conhecimento do que podem fazer, e vão torcer para que consigam atingir seus objetivos. Irão até reconhecer referências em filmes e outras histórias de sua juventude. A aventura irá se tornar em jornada, e a jornada irá criar laços entre os aventureiros e os jogadores. Um lanço que esse livro consegue fazer muito bem.
Uma jornada dura que iniciou uma lenda.
Bem, creio que não cheguei a mencionar os esforços do autor. Após 15 anos narrando essa jornada o mesmo reconheceu que não deveria ser esquecida. Ele tinha o dever e a necessidade, como um mestre de RPG, em transcreve-la para nós. Essa sua jornada própria foi cheia de dificuldades para arranjar patrocinadores, apoiadores de sua vontade. Mas ele não desistiu mesmo após tantas dificuldades, continuou insistindo até que o primeiro livro saiu. E ele continua persistindo para lançar a continuação dessa aventura. Uma aventura que se iniciou com um possível futuro tenebroso, mas que nos mostra muitos esforços foram feitos, e isso nos faz acreditar que no fim compensará.
Espero que esse Início da Lenda vá muito além de um ou dois livros, ou mesmo de possíveis continuidades cada vez melhores: melhor narrada, melhorar desenvolvida, melhor construída. Espero que a jornada continue, e não termine nem tão cedo, que nosso autor herói consiga nos mostrar mais e ir longe assim como os heróis que ele criou junto de seus companheiros. Que essa seja de fato uma Jornada que inicia A Lenda não só de um universo, como também da vontade de muitos outros desejarem fazer o mesmo: contar uma boa história.
Dito tudo isso, parabenizo Jefferson Ramos Diniz por mostrar que Alagoas ainda tem muito o que oferecer para nossa literatura. Através dessa fantasia, muitos poderão enxergar até onde nossos autores podem ir para nos entregar ótimas histórias.
E para quem quiser continuar a acompanhar essa ótima leitura, o segundo livro “O Legado da Chama Dourada” será lançado dia 21 de julho. Já estou contando os dias.
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