Assim como pizza e guaraná, ficção científica e aventura, sem sombra de dúvida, são uma combinação perfeita. Pois bem, esses são os principais ingredientes da emocionante história do Besouro Tigre, que ganha vida nas mãos talentosas do roteirista Wesley Nunes. Natural de Alagoas, o promissor artista não economizou na criatividade na hora de nos contar a saga de um herói que, mesmo sendo uma espécie de mutante, parece carregar um pouco de cada um de nós.
A trajetória do Besouro Tigre é contada em duas partes. A primeira, Saga Ktrastof Part 1, basicamente nos apresenta os principais personagens do enredo e o surgimento dessa trama que entrelaça conflitos familiares, questões sociais e uma pitada de romance. A história se passa na grande São Paulo, com cenas que vão da elite à periferia da selva de pedras. O jovem Will Alex, protagonista da trama, é filho de Stephans Alex, um político escandalosamente ligado à corrupção, com quem sempre está em crise. Will não aprova e se ressente da conduta pública de seu pai, envolvido em uma série de crimes do colarinho branco e ainda com o submundo das facções. Mas o maior problema de Will, na verdade, é de saúde. O angustiado rapaz enfrenta uma doença rara e incurável, ao mesmo tempo que depende do pai corrupto e de seu dinheiro na busca de um tratamento ou possível cura, enquanto caminha para fase terminal da enfermidade. A contragosto, se submete a servir de cobaia para uma droga experimental, produzida a partir de uma enzima extraída de uma vespa amazônica. O tratamento, experimental e caríssimo é patrocinado por Stephans, o qual enxerga no empreendimento científico não só um meio de salvar o filho, mas também uma forma de ganhar muito dinheiro, ilegalmente, com um medicamento que promete ser revolucionário.
Justamente na noite da aplicação da promissora droga em Will, um assalto bastante suspeito acontece na clínica One Lab, que termina com a morte banal de um dos pesquisadores. Um grupo de homens encapuzados e armados, a mando de uma espécie de poderoso chefão e inimigo de Stephans, identificado como o “grande tubarão branco”, invade o local com o objetivo de, ao que parece, roubar a valiosa substância. Mesmo com toda essa confusão, a aplicação é realizada normalmente em Will, que vem a ter muitas surpresas com as consequências do procedimento clandestino. A pitada de romance fica por conta da sempre amiga Bruna, filha da empregada da casa de Will. É com ela que o moribundo rapaz desabafa acerca da raiva e vergonha que sente de Stephans, bem como as expectativas do tratamento secreto cuja cobaia é ele próprio. A mesma Bruna, após uma reviravolta na vida de Will, passará a ser sua colega na escola periférica Jesus Benigno, onde coisas muito estranhas começam a acontecer com seu amigo, agora morando com o tio numa ocupação irregular e não mais rico.
Mas como foi dito, esse é somente o começo da história, cuja curiosidade que provoca não perde por esperar. Os traços expressivos do desenho de Welsey Nunes e seu texto bem construído merecem a atenção do público por várias razões, sendo que por ora, vamos ficar com duas. Em primeiro lugar, pela simplicidade carregada ao mesmo tempo de sentimento humano e de crítica social que nos convida a uma empatia cada dia mais necessária no mundo atual. Ao lado disso, a composição criativa dos elementos alegóricos e científicos que dão emoção e cor a um drama que não dispensa ação e força em algumas de suas melhores cenas. Vale a leitura, e não esqueçamos, a saga continua!
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