Nos últimos anos a Netflix (BR) passou a investir mais em animes para seu catálogo. O anime Kakegurui – originado do mangá criado por Homurara Kawamoto e Tooru Naomura – foi lançado em 2017, pelos estúdios MAPPA, chegando ao catálogo plataforma de streaming logo no ano seguinte, com classificação indicativa de 14 anos. Com vinte e quatro episódios, dividido em duas temporadas, Kakegurui é obra do gênero shonen, em um cenário escolar com aspectos de drama e suspense.
A princípio a história transmite a impressão de que a trama é centrada na personagem Yumeko Jabami e em sua chegada ao renomado e influente Colégio Particular Hyakkao. A atmosfera da obra se dá em uma realidade fictícia, onde a popularidade, poder econômico, privilégios e hierarquia – ou “cadeia alimentar” – são determinados através de jogos onde a vida – do sentido mais filosófico ao mais concreto – é posta em jogo. Além disso, a escola é gerida por alunos do grêmio estudantil, que garantem a manutenção desse sistema.
“Para suas ambições se tornarem realidade, você tem de arriscar. Quanto maior a ambição, maior o risco. Por isso, faça sua escolha. Viva em paz como um aspirante ou arrisque tudo para chegar no topo. É você que tem que decidir.”
Yumeko passa a ser uma peça nesse grande jogo, interagindo, criando alianças e rivalidades. Embora haja uma história global, cada episódio apresenta uma parte independente que contribui para desenvolver gradativamente um todo. Diz-se que o anime tem a intenção de explorar a temática de “vícios”, porém esta é uma análise muito superficial da coisa. As motivações da maioria dos personagens, são de outra ordem.
Em aspectos artísticos o anime é bem construído, mas o que mais chama a atenção é a intensidade depositada nas expressões verbais e faciais dos personagens, gerando uma comunicação clara das emoções retratas, quase como um exagero.
Kakegurui é um anime intenso e embora não haja cenas totalmente explícitas, faz menção a algumas formas de violência, de modo a transmitir seriedade e suspense frente a uma realidade de competitividade ácida. Em contrapartida, o apelo erótico soa forçado com ações e closes fora de contexto, sendo pouco convincente, mas exigindo do expectador a necessidade de assistir com fones de ouvido.
Ao decorrer da trama, nota-se que a real protagonista é a própria instituição escolar e como ela reflete a realidade daquela sociedade fictícia. O poder se estende para além do colégio, havendo articulações diretas com o poder político e lideres corporativos, onde vidas e futuros são decididos, como em uma grande conspiração nacional.
A trama geral provoca um interesse em saber o que há por traz da estrutura de poder dessa realidade – o que não é solucionado totalmente nesta temporada – , bem como o questionamento constante de “ O que realmente motiva a Yumeko?”, pois ao contrário do que é repetido o tempo todo, a questão dela parece não ser sobre compulsão por jogos, mas sobre confiança e justiça.
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