Toda vez que uma pessoa é morta injustamente, e tem uma morte cruel a ponto de sua alma ir ao outro mundo cheia de angustias sem poder descansar, um corvo surgi para lhe dar a chance de se vingar sendo ele o portal entre dois mundos.
O CORVO
Imagem I. Capa da Graphic Novel do Corvo 2018.
A obra de James O’ Barr conta que o corvo foi por mais de cem mil anos o maior de todos os deuses que já existiu. O corvo carniceiro é aquele que leva os sonhos. Ele teria surgido ainda no período paleolítico na região europeia e pelo oriente.
Há aproximadamente mil anos atrás os gregos o chamavam de Cronos, batizado pelo nome de Saturno pelos Romanos. Deus do tempo. Na China, o pássaro de penas negras foi o primeiro dos emblemas imperiais. Representava Yang, o sol.
Já no período Medieval, o corvo era como a “Sombra do Sol” era como os alquimistas europeus definiam o corvo, como símbolo que usava para o “Nigredo”. O corvo é o ser que vive da morte.
Imagem II. O corvo servindo de portal para a vingança da alma de Eric.
O corvo que encontramos nesta obra é o mesmo que vemos nos filmes. Vingador melancólico, cheios de fantasmas e inconsolável, com traços femininos e com rosto pintado de branco, que remontam a deusa-corvo de Marfim de cem mil anos atrás. É o rosto ensanguentado da mãe morte.
Imagem III. O rosto do corvo faz referencia aos antigos deuses mitológicos.
A Graphic Novel da editora Darkside trás capítulos de um quadrinho gótico, de vingança e muita melancolia; escrita por James O’ Barr. Esse é o Corvo, vivenciado por Eric Derivem.
Esse quadrinho é repleto de maldições e mistérios. James O’ Barr sofreu uma tragédia, perdeu a namorada. E colocou toda suas angustias na história desse quadrinho. Nas primeiras paginas já é possível sentir o peso da história. Quando li as premissas fiquei assustado. Pois era dia de ano novo, e eu não queria ler em um dia onde se comemoraria a paz mundial. As frases são impactantes. Saber que perderemos quem amamos para morte, isso é inevitável, o quadrinho já nos vai colocando em choque com isso.
À medida que se discorre lendo, o leitor vai percebendo e sentindo o medo e o suspense. Não pelos desenhos em si. Mas, pela tragédia que acontece com Eric. É angustiante ler e ver seus pensamentos quadro a quadro; suas lembranças de como morreu junto com a namorada. Os dois iam se casar, era um casal feliz, que sabia o que era amor de verdade. É triste ver sua dor e a perda.
Imagem IV. Shelly e Eric.
Mas é nesse tipo de historia em quadrinhos, que surgem as histórias de anti-heróis. Com o justiceiro, algo bastante parecido. O que acontece com sua família é cruel. O Justiceiro perde filhos e esposa em apenas um dia. O alivio da história é simplesmente a formação da vingança. É o que nos consola quando estamos lendo. É o que pensaríamos, tentaríamos fazer para suprir nossa dor a principio na vida real.
James O’ Barr tinha uma namorada. Ele estava com o pagamento do carro atrasado e não queria sair porque a policia poderia prender seu carro. Ele liga pra ela ir pagar a conta atrasada. Acontece que um acidente aconteceu e durante o percurso, no caminho a sua namorada é atropelada e morre. James O’ Barr passa a se culpar por isso. Se estivesse pago a fatura que devia, sua namorada estaria viva. Sendo assim a Shelly no quadrinho é a personificação de sua namorada morta.
No quadrinho o carro do casal quebra no meio da estrada. Cinco delinquentes passam e resolvem assassinar Eric e estuprar e matar sua namorada. As cenas são fortes. É aí que o corvo nasce.
Imagem V. A lembrança de Eric.
O corvo trás a alma de Eric de volta para se vingar, julgar os culpados. Eric agora tem novos poderes. Invulnerável, ele via tudo ao seu redor. O animal também falava com ele. Eric podia sentir e ver o que aconteceu no passado, quando tocava nas coisas materiais. Eric também tinha o poder de fazer com que seus inimigos sofressem com o sofrimento dos que eles mesmos mataram.
O quadrinho é cheio de história de dor e luto. Mas Eric é um personagem engraçado. Um pouco parecido com o Motoqueiro fantasma da Marvel, um espirito da vingança.
O corvo se vinga de seus inimigos no começo da história. Apenas no final mostra como eles morreram e como surgiu o corvo. Durante a leitura, o leitor vai se deparando com poemas góticos, que o faz sentir a angustia, a dor e a solidão do corvo.
“Sonhe, o sonho negro do Corvo” Musica: Burn- The Cure:
Antes de começar a ler a história James O’ Barr tem uma conversa com o leitor através de sua obra: o Corvo. Ele conta, quão é vazio perder alguém, e pior, se sentir culpado por isso. O desabafo nos faz perceber o peso e o sentimento que foi colocado nestas paginas de quadrinhos. Como que se sentia na época James O’ Barr.
Podemos compreender então, que nossas tristezas podem dizer muito a nosso respeito.
“Um dia você perderá tudo que tem. Não existe nada que possa prepara-lo para esse dia. Nem a fé… nem a religião… nada. Quando aquela pessoa que você ama morrer, você conhecerá o vazio… você saberá o que é estar absolutamente só”.
John Bergin – Kansas City 1993.
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