Um estudo produzido pela Universidade McGill, no Canadá, afirma que a demanda por mais
viagens espaciais pode aumentar o risco de uma “invasão alienígena” – embora não
especifique de qual escala -, cortesia de organismos extraterrestres que possam “pegar
carona” em uma de nossas naves que retornarem do espaço.
O paper foi publicado no jornal científico BioScience, e busca explicar, logo de cara, que por
“invasão alienígena”, eles não estão se referindo ao universo da ficção científica visto nos
cinemas, mas sim de organismos bacterianos/microscópicos que não sejam endêmicos ao
nosso planeta, efetivamente introduzidos na Terra e tornando-se invasivos e potencialmente
danosos.
“A busca pela vida fora do nosso mundo é uma empreitada empolgante que poderia trazer
enormes descobertas em um futuro não tão distante”, disse o autor primário do estudo,
Anthony Ricciardi, ao Live Science via e-mail. “Entretanto, com o maior volume de missões
espaciais – incluindo aquelas com objetivos de entregar amostras de fora à Terra -, é crucial
que empreguemos a redução de riscos de contaminação biológica em ambas as direções”.
Ricciardi, que é Professor do curso de especialização em Biologia Invasiva na McGill, refere-se
aos cuidados que cientistas tomam para que eles não contaminem as amostras coletadas,
preservando a sua pureza. Para ele, o caminho contrário é igualmente importante, justificando
a necessidade de se criarem parâmetros para que nós não sejamos contaminados pelas
amostras.
Junto de seu time, o especialista ressalta que o risco de uma invasão alienígena ocorrer desta
forma (ou seja, “aliens caroneiros”) é “extremamente baixo”, uma vez que o ambiente inóspito
do espaço não facilitaria a sobrevivência de qualquer organismo do lado de fora de uma nave.
Entretanto, isso não elimina a necessidade de cuidados específicos para minimizar esse risco.
Ricciardi usa exemplos ocorridos aqui na Terra para reforçar sua hipótese: em 1935, o governo
australiano enfrentava o problema de besouros destruidores de hortaliças e outras plantas
originadas na agricultura de consumo. Como medida de contenção, foram importados alguns
exemplares de sapo-cururu, natural das Américas Central e do Sul.
O problema: sapos-cururu se reproduzem a uma velocidade assustadora e, pouco depois de
serem introduzidos na região australiana – onde seus predadores naturais americanos não
existem -, eles é quem se tornaram a praga, aumentando sua população antes do fim daquela
década e sendo um problema que perdura até hoje.
Há também a questão biológica: organismos insulares – isto é, que se desenvolveram em
ambientes muito específicos – não contam com as adaptações físicas vistas em espécies
semelhantes que vivem em regiões mais pluralizadas. Na Terra, exemplares tão exclusivos são
comumente encontrados em ilhas fechadas ou regiões de difícil acesso – Madagascar, por
exemplo, é um caso moderno de biologia insular.
Os especialistas indicam, contudo, que a mesma tratativa deve ser aplicada no espaço:
“Invasões biológicas foram rotineiramente devastadoras para as plantas e animais nesses
sistemas. Nosso estudo pontifica que planetas e luas com potencial de hospedar a vida sejam
também tratados como se fossem ambientes insulares”, disse o professor.
Como evidência, o paper cita o incidente de 2019, onde a espaçonave israelense Beresheet
caiu na Lua. A nave em questão carregava centenas de tardígrados (vulgarmente conhecidos
como “ursos d’água”) – uma criatura incrivelmente pequena, mas conhecida por ser
extremamente resistente à maioria das condições nocivas, desde radiação até o congelamento
extremo.
Estudos posteriores indicaram que a carga da Beresheet provavelmente não teria sobrevivido
à queda, mas a situação em si serve para ressaltar o risco de contaminações biológicas do tipo.
Jennifer Wadsworth, uma astrobióloga da Universidade Lucerne, na Suíça e que não está
envolvida na produção do estudo, chamou-o de “um excelente resumo” para a contínua e
necessária criação de políticas atualizadas de proteção planetária: “os planetas e as luas
sempre trocaram materiais por meio de meteoritos, mas a exploração espacial humana
poderia acelerar contaminações que, de outra forma, ocorreriam naturalmente”, ela disse.
Ricciardi espera que o estudo desenvolvido por sua equipe sirva de base para que pesquisas
futuras sejam capazes de desenvolver práticas mais consistentes de cuidado na prevenção à
contaminação biológica, tanto deles para nós, como de nós para eles.
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